O professor da USP, vencedor do Mérito Científico
do Prêmio Jovem Cientista, fala sobre pesquisas de alimentos funcionais.
REDAÇÃO PRÊMIO JOVEM CIENTISTA
27/05/2015 - 08h01 - Atualizado 27/05/2015
08h01
Com 48
anos de carreira, o professor e pesquisador Franco Maria Lajolo iniciou
seus estudos relacionados a alimentos e nutrição durante o doutorado, em 1967.
Hoje, lidera pesquisas sobre compostos bioativos de alimentos.
Professor sênior da Universidade de São Paulo, pesquisador do Centro de Pesquisa
em Alimentos/USP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), Lajolo diz que frutas regionais e populares no Brasil, como
jabuticaba, morango e laranja, têm mostrado resultados promissores no combate a
doenças crônicas. Ele prevê a disseminação da análise genética para
personalizar cada vez mais os tratamentos de saúde. “O desenvolvimento de
alimentos funcionais caminha na direção de uma nutrição mais individualizada”,
diz o pesquisador, que na semana passada foi anunciado como vencedor do Mérito
Científico no Prêmio
Jovem Cientista 2015.
Que avanços o
senhor percebe na área de Segurança Alimentar e Nutricional, de acordo com as
pesquisas de que participou?
Franco Maria Lajolo – Ao longo dos anos, o Centro de Pesquisa em Alimentos desenvolveu diversas linhas de pesquisa, por meio de projetos nacionais e internacionais, que geraram contribuições significativas para a área de segurança alimentar e nutricional. A obtenção de novas fontes proteicas para o combate de deficiências nutricionais, em programas como o da merenda escolar, e o desenvolvimento de novas metodologias para avaliar sua segurança e seu valor biológico são alguns dos estudos realizados. Implementamos, no Brasil, o “Programa de Composição de Alimentos”, que estabeleceu um banco de dados sobre macro e micronutrientes, essencial para conhecer de tanto a nossa biodiversidade quanto a maneira como nossa população se alimenta. Isso possibilitou a identificação e a avaliação de possíveis deficiências nutricionais. Iniciamos também novas linhas de investigação envolvendo o conceito de atividade da água e seu papel nos mecanismos de deterioração de alimentos. Foram desenvolvidos ainda estudos sobre o amadurecimento em frutas pós-colheita para descobrir os mecanismos moleculares e genéticos envolvidos no processo e estabelecer as bases da sua conservação e qualidade, importantes na redução de desperdícios de frutas pós-colheita.
Franco Maria Lajolo – Ao longo dos anos, o Centro de Pesquisa em Alimentos desenvolveu diversas linhas de pesquisa, por meio de projetos nacionais e internacionais, que geraram contribuições significativas para a área de segurança alimentar e nutricional. A obtenção de novas fontes proteicas para o combate de deficiências nutricionais, em programas como o da merenda escolar, e o desenvolvimento de novas metodologias para avaliar sua segurança e seu valor biológico são alguns dos estudos realizados. Implementamos, no Brasil, o “Programa de Composição de Alimentos”, que estabeleceu um banco de dados sobre macro e micronutrientes, essencial para conhecer de tanto a nossa biodiversidade quanto a maneira como nossa população se alimenta. Isso possibilitou a identificação e a avaliação de possíveis deficiências nutricionais. Iniciamos também novas linhas de investigação envolvendo o conceito de atividade da água e seu papel nos mecanismos de deterioração de alimentos. Foram desenvolvidos ainda estudos sobre o amadurecimento em frutas pós-colheita para descobrir os mecanismos moleculares e genéticos envolvidos no processo e estabelecer as bases da sua conservação e qualidade, importantes na redução de desperdícios de frutas pós-colheita.
E o que vem
motivando esse tipo de pesquisa?
Lajolo – A relação entre a alimentação, os custos da saúde pública, as pesquisas nutricionais, o interesse do consumidor e os aspectos econômicos têm sido forças motivadoras para o desenvolvimento de alimentos funcionais. Além dos efeitos nutricionais, evidências científicas aprovadas por organizações de saúde pública atestam os benefícios desses alimentos para o bem-estar do organismo. Em contribuições recentes, os chamados alimentos funcionais são associados aos componentes da dieta e às doenças crônicas não transmissíveis. Desse modo, o estudo interdisciplinar dos compostos bioativos desses alimentos, isto é, das substâncias que contribuem para o bom funcionamento do organismo, mostra-se necessário, buscando examinar a biodiversidade e identificar as ações biológicas desses compostos e seus possíveis usos.
Lajolo – A relação entre a alimentação, os custos da saúde pública, as pesquisas nutricionais, o interesse do consumidor e os aspectos econômicos têm sido forças motivadoras para o desenvolvimento de alimentos funcionais. Além dos efeitos nutricionais, evidências científicas aprovadas por organizações de saúde pública atestam os benefícios desses alimentos para o bem-estar do organismo. Em contribuições recentes, os chamados alimentos funcionais são associados aos componentes da dieta e às doenças crônicas não transmissíveis. Desse modo, o estudo interdisciplinar dos compostos bioativos desses alimentos, isto é, das substâncias que contribuem para o bom funcionamento do organismo, mostra-se necessário, buscando examinar a biodiversidade e identificar as ações biológicas desses compostos e seus possíveis usos.
Que alimentos têm
potencial bioativo?
Lajolo – As frutas e vegetais apresentam grande potencial como fontes de compostos bioativos para o desenvolvimento de alimentos funcionais. Entre esses compostos, destacam-se os carotenoides, os polifenóis, os flavonóides, e também as antocianinas, as proantocianidinas, os fitosteróis, os prebióticos e outros de origem animal, como os ácidos graxos ômega 3, os peptídeos bioativos e os probióticos. Além da capacidade antioxidante, essas substâncias possuem ações biológicas anti-inflamatória, sobre enzimas ligadas ao controle da pressão arterial e em fatores ligados ao câncer. Essas áreas representam um importante campo de pesquisa e oferecem inúmeros desafios, entre eles: identificar a sua ocorrência, obter a sua caracterização molecular e estudar o efeito do processamento tecnológico dos alimentos. E mais: conhecer a sua biodisponibilidade em humanos, isto é, a quantidade e a velocidade de absorção dos princípios ativos dessas substâncias; sua ação em pessoas saudáveis e em pessoas com síndrome metabólica ou doenças crônicas não transmissíveis.
Lajolo – As frutas e vegetais apresentam grande potencial como fontes de compostos bioativos para o desenvolvimento de alimentos funcionais. Entre esses compostos, destacam-se os carotenoides, os polifenóis, os flavonóides, e também as antocianinas, as proantocianidinas, os fitosteróis, os prebióticos e outros de origem animal, como os ácidos graxos ômega 3, os peptídeos bioativos e os probióticos. Além da capacidade antioxidante, essas substâncias possuem ações biológicas anti-inflamatória, sobre enzimas ligadas ao controle da pressão arterial e em fatores ligados ao câncer. Essas áreas representam um importante campo de pesquisa e oferecem inúmeros desafios, entre eles: identificar a sua ocorrência, obter a sua caracterização molecular e estudar o efeito do processamento tecnológico dos alimentos. E mais: conhecer a sua biodisponibilidade em humanos, isto é, a quantidade e a velocidade de absorção dos princípios ativos dessas substâncias; sua ação em pessoas saudáveis e em pessoas com síndrome metabólica ou doenças crônicas não transmissíveis.
As pesquisas
concentram-se em algum alimento em especial?
Lajolo – Nossas pesquisas têm-se voltado para frutas regionais do Brasil, além de outras que têm consumo significativo, como a cajaita, jabuticaba, grumixama, amora negra, morango, laranja normal e laranja vermelha, tomate roxo e milho roxo. Nestes frutos, identificamos diversos compostos bioativos e caracterizamos a sua estrutura molecular e a sua biodisponibilidade. Estamos avaliando a sua ação em humanos e os possíveis mecanismos em animais e culturas de tecidos. Os resultados são promissores: diversos extratos desses frutos mostraram algum tipo de ação na redução da glicemia, melhora na resistência à insulina, ação anti-inflamatória (importante porque a inflamação crônica é causa de doenças) e ação antioxidante. No futuro, a aplicação da genômica funcional (caracterização genética das pessoas) e dos conceitos de biologia de sistemas, ao lado dos estudos do microbioma intestinal, permitirão a identificação de biomarcadores e o desenvolvimento de alimentos funcionais na direção de uma nutrição mais individualizada.
Lajolo – Nossas pesquisas têm-se voltado para frutas regionais do Brasil, além de outras que têm consumo significativo, como a cajaita, jabuticaba, grumixama, amora negra, morango, laranja normal e laranja vermelha, tomate roxo e milho roxo. Nestes frutos, identificamos diversos compostos bioativos e caracterizamos a sua estrutura molecular e a sua biodisponibilidade. Estamos avaliando a sua ação em humanos e os possíveis mecanismos em animais e culturas de tecidos. Os resultados são promissores: diversos extratos desses frutos mostraram algum tipo de ação na redução da glicemia, melhora na resistência à insulina, ação anti-inflamatória (importante porque a inflamação crônica é causa de doenças) e ação antioxidante. No futuro, a aplicação da genômica funcional (caracterização genética das pessoas) e dos conceitos de biologia de sistemas, ao lado dos estudos do microbioma intestinal, permitirão a identificação de biomarcadores e o desenvolvimento de alimentos funcionais na direção de uma nutrição mais individualizada.
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