"Suplementação já é apontada como causa de lesões renais
Nutrólogos temem surto de hemodiálise
no futuro devido ao uso indiscriminado
PUBLICADO EM 24/05/15 - 03h00
Litza Mattos
Na moda e amplamente incentivado entre os
praticantes de atividades físicas nas academias, o consumo exagerado de
suplementos alimentares e vitaminas está levando aos consultórios mais
pacientes com alterações na função renal, devido ao uso desses produtos sem
acompanhamento e, muitas vezes, até como substitutos de refeições.
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Casos de insuficiência e calcificação renal,
intoxicação e hipervitaminose ficam cada vez mais comuns nos consultórios com a
explosão desse culto ao “lifestyle fitness” e com a lentidão na fiscalização
dos produtos que são comercializados. A presidente da Sociedade Brasileira de
Nefrologia (SBN), Carmen Tzanno, diz que chega a receber até dois pacientes por
semana relatando problemas que, quando investigados, levam à constatação de que
foram causados por suplementos.
“Muitos pacientes são jovens e até adolescentes”,
afirma ela. “Esse movimento é percebido há pelo menos três anos”, completa, ao
explicar que a suplementação é recomendada apenas para atletas de alto
rendimento ou para sanar deficiências geradas por patologias.
A preocupação é crescente, e o consumo
inadequado é apontado como uma das causas da disfunção renal, discutida em
congressos da área. O nutrólogo e também nefrologista Alexandre Dias Pinto
Coelho alerta que, em conversas informais em um desses eventos, foi levantada a
suspeita de um possível surto na hemodiálise. “Pelo andar da carruagem, é
possível que, dentro de dez ou 15 anos, comece a aparecer gente com doença
renal terminal secundária ao uso abusivo de proteínas, sejam elas de
suplementos ou não”, critica.
Um dos principais riscos, segundo Coelho, é a dieta
dos atletas que buscam hipertrofia (crescimento dos músculos), baseada
principalmente em alimentos e suplementos ricos em proteínas, que, em excesso,
podem acelerar nefropatias (lesões ou doença do rim) silenciosas. Carmen também
ressalta os riscos das dietas da moda, como a Dukan, que, se aliada aos
suplementos proteicos (como o Whey Protein, por exemplo), acaba levando à
formação de pedras nos rins.
A nefrologista também cita o caso de um paciente
que, após o uso de doses elevadas de vitamina D, chegou ao quadro de
intoxicação, hipervitaminose e calcificação renal. “Quando você retira o
consumo e faz a orientação adequada, em geral, a função é recuperada. O grande
problema é que as pessoas, mesmo orientadas, têm uma ambição estética tão
grande que qualquer outro problema de saúde acaba sendo deixado de lado”.
A psicóloga Marcelle Bitarães, 24, conta que sempre
desconfiou dos benefícios dos suplementos, mas há oito meses ela adquiriu uma
rotina mais rigorosa de atividade física e passou a sentir a necessidade de
contar com a “ajuda” de produtos indicados por sua nutricionista esportiva.
“Sempre tive o pé atrás e, sem acompanhamento, acho perigoso tomar. Consegui
eliminar 10 kg e 13% de gordura. Sem os suplementos acho que conseguiria o
mesmo resultado, mas demoraria mais”.
Expansão. No Brasil,
estima-se que 2% da população – cerca de 4 milhões de pessoas – consuma
suplementos, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Produtos
Nutricionais (Abenutri). Dentro do mercado de nutrição esportiva, os produtos à
base de proteína aparecem como campeões de venda (65%), e os jovens entre 15 e
30 anos representam 80% dos consumidores.
“Os números podem aumentar de maneira exponencial
nos próximos anos. Sendo assim, esse mercado deve ser regulado, e a população
deve procurar orientação profissional. Essas medidas são preventivas e visam à
preservação da função renal, boa qualidade de vida e um estilo de vida
saudável”, diz Carmen.
Fiscalização
Alerta. Somente em 2014 e
2015, a Anvisa proibiu a distribuição e a comercialização de 21 marcas de suplementos
proteicos para atletas e outras 14 marcas de suplementos alimentares.
Só produtos alterados são suspensos
Regulamentação: Em 2010, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um regulamento
técnico com diretrizes específicas aos alimentos para atletas.
Venda: Por telefone, a
assessoria de imprensa da agência disse que os produtos podem ser vendidos em
farmácias e lojas de produtos naturais. “A comercialização só é suspensa quando
os produtos apresentam algum problema”."
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